Vejo-me encostada à brisa
à espera de um regresso
feito de poucas memórias
enquanto destroços de nós
bóiam na enxurrada.

Remexo em minha arca antiga,
acaricio esquecidas incompreensões
enquanto sorrio para as minhas
muitas fracas conquistas.

As pernas pendentes na cama,
o sexo à vista, tudo sem pudor:
o meu horror e a minha
total exposição.

Amigável o espelho me encara.
Não
me permito enfrentá-lo;

o espelho é perigoso!

Toma sua forma
mas fica atrás, vigiando,
com olhar porcino e
respiração silente.

Assustada e nua assisto
minhas associações amorosas
submergirem.

Levanto-me das cinzas
com meus cabelos em brasas
queimada até a raiz

engolfo-me!

E, como nunca vi,
Percebo-me mais pura!



Patrícia Di Carlo
Imagem: Kaotika

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