Lambi o mel dos teus olhos,
Um qualquer castanho que
Pintaram, ao léu, na tela
Dos meus etéreos...
Gesto de ouro que fez
Lábios que lambem
Minha papoula boca...
E eu o sinto com a
Febre dos desesperados...
Patrícia Gomes
Imagem: Desconheço a autoria.
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Sou homem do durante. Do meio. Do decorrer. Nada contra quem pensa o contrário, mas é um pouco de soberba inaugurar ou fechar o mundo.
Quando se ama uma mulher, é preciso a safadeza, a vontade sem pudor, o desejo diabólico, a tara. Não se conter, não se represar. A ânsia, a violência e a obsessão são permitidas. Mas tudo será grosseria desacompanhada da pureza.
Pureza é autenticidade. Não fingir, não disfarçar, não dizer o que não está sentindo. Já ouvi muito que sexo não é seguir a cabeça e deixar as coisas aconteceram. Sexo seria não pensar. Não concordo, sexo não é inconseqüência, é conseqüência da gentileza. Conseqüência de ouvir o sussurro, de ser educado com o sussurro e permanecer sussurrando. Perder o pudor, não perder o respeito. Perder a timidez, não perder o cuidado.
Sexo é pensar, como que não? E fazer o corpo entender a pronúncia mais do que compreender a palavra. Como se não houvesse outra chance de ser feliz. Não a derradeira chance, e sim a chance.
Uma mulher está sempre iniciando o seu corpo. Toda a noite é um outro início. Toda a noite é um outro homem ainda que seja o mesmo. Não se transa com uma mulher pela repetição. Seu prazer não está aprendendo a ler. Seu prazer escreve - e nem sempre num idioma conhecido.
Ela pode ficar excitada com uma frase. Não é colocando de repente a mão na coxa. Ela pode ficar excitada com uma música ou com uma expressão do rosto. Não é colocando a mão na sua blusa. Mulher é hesitação, é véspera, é apuro do ouvido.
Antever que aquelas costas evoluem nas mãos como um giz de cera. Reparar que a boca incha com os beijos, que o pescoço não tem linha divisória com os seios, que a cintura é uma escada em espiral.
É comum o homem, ao encontrar sua satisfação, recorrer a uma fórmula. Depois de sucesso na intimidade, acredita que toda mulher terá igual cartografia, igual trepidação. Se mordiscar os mamilos deu certo com uma, lá vai ele tentar de novo no futuro. Se brincou de chamá-la de puta, repete a fantasia interminavelmente. Assim o homem não vê a mulher, vê as mulheres e escurece a nudez junto do quarto.
Amar não é uma regra, e sim onde a regra se quebra.
Não se come uma mulher, ela é que se devora.
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Meta a língua no
céu da minha boca
enquanto minhas mãos
decifram teu corpo...
Patrícia Gomes
Imagem: Holger Scheibe
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Indecência, aflita por
Teu toque, arqueei meu corpo
Exibindo-me pra ti.
Ao primeiro beijo
Da tua boca na minha,
Um beijo louco, doce,
Entreguei-me, toda molhada,
Numa febre danada,
Totalmente descarada!
Patrícia Gomes
Imagem: Matteo Bertolio
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Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emaranhá-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...
Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizada
sob o meu corpo arfando transbordada,
nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
e vejo-me em destroço até vencendo:
é que eu teria só, sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo.
Mario de Sá Carneiro
Imagem: Bill Phelps
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Comendo na sua cama
São Paulo pela janela
Me parece tão distante
Nessa semana de romance
Passo dias no seu quarto
Sem roupa nos seus braços
Sentado no chão do box
Te devorando em baixo d'água
Morro de tédio e tristeza
Quando você vai pro trabalho
E eu fico em casa deitado
Solidão de Nosferatu
Eu quero ter seu sangue
Nos dias mais impróprios
O teu cheiro e um beijo morno
Na hora em que eu abro os olhos
Tiro férias do universo
Vivendo às suas custas
Realizo os seus desejos
Seu gigolô sem culpas
Vem se esquenta em mim, vem se encosta em mim
Nenhum outro lugar pode ser melhor que aqui
Pra te proteger, pra te ameaçar
Nenhum outro lugar pode ser melhor que aqui
Pode ser melhor que aqui
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